A atuação conjunta entre pescadores e técnicos
O trabalho de conservação e proteção realizado
pelo Tamar-Ubatuba está diretamente relacionado com a
atividade pesqueira, que representa a maior ameaça para as
tartarugas marinhas. Desde 1991 quando a base foi implantada,
até o ano passado, o Tamar registrou quase 4.500 ocorrências
na região.
Além do monitoramento das praias, a marcação
das tartarugas capturadas por barcos de pesca com redes de
deriva é realizada com o embarque de técnicos da Base. Em
2000, o Tamar iniciou em Ubatuba o monitoramento da captura
acidental de tartarugas pela frota camaroeira do município.
Equipes do projeto embarcam na pescaria para marcar e soltar
os animais, além de ensinar à tripulação as técnicas para
reanimar as tartarugas que estejam afogadas e desmaiadas.
Desde 2001, o Projeto Tamar vem trabalhando no
Plano de Ação para a Redução da Captura Incidental de
Tartarugas Marinhas pela Atividade Pesqueira. A Base de
Ubatuba participa do trabalho com projeto piloto junto à frota
de rede de emalhe de deriva, que tem os tubarões como
espécies-alvo, para avaliar a interação entre as tartarugas e
esta modalidade de pesca, desde 2002, passou a monitorar
algumas embarcações dessa frota.
Entre as diversas artes de pesca
tradicionalmente utilizadas em Ubatuba, o cerco flutuante se
destaca pelo elevado número de capturas marinhas, é uma
armadilha construída com redes fixadas por âncoras e
sustentada por flutuadores, normalmente feitos de bambu. Com
os cuidados de três a cinco pescadores, o cerco funciona como
um aquário dentro do mar onde os peixes e as tartarugas ficam
presos. Os pescadores visitam o cerco duas a três vezes por
dia e quando encontram alguma tartaruga levam o animal para o
rancho de pesca e avisam ao Tamar. Um técnico do Projeto vai
ao local fazer a identificação, biometria, pesagem, marcação e
posterior soltura do animal. Apesar de numerosas capturas, até
nove de uma vez segundo os registros, o cerco flutuante
normalmente não mata as tartarugas porque elas conseguem
respirar. Redes de espera e de arrasto além de capturar,
deixam o animal submerso sem conseguir alcançar a superfície
para respirar, apresentando um alto índice de mortalidade.
O Tamar trabalha em 106 quilômetros de praia em
Ubatuba, monitorando cercos flutuantes no continente nas
praias: do Bonete, do Cedro e Camburi.
No Pargue Estadual da Ilha Anchieta o Tamar
trabalha em parceria com os pescadores dos três cercos
existentes no local, nas praias: do Sul, do Leste e Pedra do
Sul, destacando-se o da Praia do Sul, que é visitado por
técnicos diariamente desde 1995, gerando dados de grande valor
para a ampliar os conhecimentos sobre a interferência dessa
arte de pesca na vida das tartarugas marinhas.
Na praia do Itaguá também há marcação periódica
de tartarugas no rancho de pescadores, capturadas em redes de
espera.
Em outras nove praias: Almada, Enseada,
Flamengo, Lázaro, Perequê-Açu, Picinguaba, Pulso, Saco da
Ribeira e Tenório, os pescadores colaboradores informam quando
ocorrem capturas, geralmente em redes de espera.
Outro fator importante a ser levado em conta é
a ameaça de adoção de sanções de mercado, como certificação a
partir de critérios ambientais, moratórias ou embargo para o
pescado originário de áreas onde a captura a incidental ocorra
com freqüência. Em algumas áreas do Oceano Pacífico, onde em
20 anos 95% da população de tartarugas de couro já
desapareceram, a pesca de espinhel está proibida ou as
entidades de conservação da espécie, como a norte-americana
Leatherback International Survival Conference, estão
propondo a moratória.
No Brasil onde a pesca da tartaruga já é
proibida por lei, as medidas de proteção passam pela
conscientização dos pescadores, principalmente de grandes
empresas pesqueiras. Nas comunidades que vivem da pesca
artesanal onde o Tamar tem base o processo já está bastante
avançado, com a atuação conjunta entre pescadores e técnicos
tornando possível a proteção das tartarugas marinhas. |
O Projeto realiza pesquisa em parceria com a
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo há sete anos, lembra a Dra. Eliana Reiko
Matushima, chefe do Departamento de Patologia da Faculdade,
que realiza palestras para os estagiários e auxilia o Tamar em
diagnósticos anátomo-patológicos de tartarugas mortas. Além
disso, inúmeros trabalhos científicos já foram apresentados em
congressos e publicados em periódicos nacionais e
internacionais. Segundo a coordenadora regional Berenice Gallo,
a Base de Ubatuba coleta sistematicamente dados sobre a
ocorrência desta doença, buscando através dessa parceria com a
Universidade de São Paulo, estudar as possíveis causas desses
tumores.
O Tamar atende também casos de animais
atropelados por embarcações, com problemas no aparelho
respiratório ou que ingeriram lixo, inclusive sacos plásticos,
embalagens, lonas, linhas de pesca e outros artefatos. A
ingestão de lixo é o segundo maior índice de atendimento no
Centro de Reabilitação de Ubatuba, que conta com equipe
especializada, área de quarentena para tratamento de
tartarugas debilitadas, ambulatório, sala de cirurgia e cinco
tanques de até três mil litros para isolamento de animais em
tratamento.
Informações
extraídas da Revista do Tamar - ano 8 / n° 6 / 2003 |